Padrões de ativação estáveis

O cérebro “caótico” (em poucas palavras)

O advento dos computadores digitais está associado ao desenvolvimento da teoria do caos, uma descrição matematicamente derivada de muitos sistemas complexos na natureza, incluindo o cérebro humano. Sistemas caóticos são uma ruptura no nosso antigo caminho linear de compreensão da realidade. Eles representam um retorno às filosofias antigas, como o taoísmo e o budismo. Muitos dos cérebros incluídos em estudos sobre “experiências de pico” advêm justamente destas antigas tradições.

A teoria diz que os sistemas caóticos são altamente sensíveis às condições iniciais em que eles aparecem, se desenvolvendo de acordo com a “experiência”. Sistemas caóticos não são previsíveis, mas eles são caracterizados pelo que se costuma chamar de “atratores estranhos” – “hábitos” de operação.

Um fluxo de água corrente que se forma após as chuvas da primavera está constantemente mudando na medida em que atravessa um percurso rochoso, mas cria quase a mesma onda estacionária, no mesmo local, produzida por água diferente, milhares de vezes durante um dia. Uma série de fotografias sucessivas, muitas vezes mostraria – mas nem sempre – essa onda, mas não de uma forma previsível.

Os hábitos mentais – tanto físicos como emocionais – são subjacentes aos hábitos cerebrais. Eu não sei quando vou estar com raiva, e nem importa o motivo, mas é bem provável que, ao longo dos próximos dias, vou acabar perdendo a calma em um momento ou outro. Ou me sentir muito ansioso ou lidar com uma situação difícil de maneira calma e eficiente, ou deitar e ficar acordado na cama por horas.

A experiência da mãe é a experiência da criança durante seu desenvolvimento cerebral no período pré-natal. Duas meninas podem nascer na mesma hora e no mesmo hospital. A mãe de uma delas é saudável, animada, e se sente segura e protegida durante a gravidez. A mãe da outra está vivendo uma situação abusiva e muitas vezes se sente culpada, assustada e preocupada.

Após o nascimento, a primeira filha é amada e cuidada, tendo um ambiente seguro e confiável, desenvolvendo assim um senso de importância, harmonia e aceitação. A outra encontra um universo assustador e imprevisível, sem amor e proteção confiáveis, às vezes até mesmo sem cuidados básicos. Estes dois cérebros irão desenvolver padrões energéticos muito diferentes. Eles vão ser diferentes na capacidade de sustentar estados alfa de “repouso-prontidão”, processamento em beta e acesso a sentimentos e memórias em teta.

O primeiro será mais propenso a aceitar a experiência como ela vem, encontrando formas de adaptá-las aos seus desejos e lidando com as perdas a partir de um lugar de estabilidade e poder. A segunda pode desenvolver um cérebro hiper-vigilante, sempre à espera da próxima decepção ou ameaça e incapaz de confiar, a ponto de não conseguir desenvolver relacionamentos íntimos.

Esses diferentes padrões podem ser medidos, categorizados e treinados.

Padrões de Ativação Estáveis

Lembre-se que “nós não experimentamos o universo como ele é; o universo é como nós o experimentamos.” Nossos cérebros criam o universo em que vivemos. É um ciclo auto-perpetuador. A segunda criança se sente como uma vítima, age como uma vítima e enxerga um mundo pronto para atacá-la. Ela sempre poderá encontrar aquilo que procura, então o cérebro continuará acreditando que a sua falta de contato humano é um problema “externo”.

Uma vez que um cérebro começa a percorrer uma ou outra destas vias, ele acaba ficando cego em relação aos próprios hábitos. É claro que um choque imenso ou prolongado pode abalar a fé do primeiro cérebro na “bondade” da vida, mas é difícil produzir uma experiência suficientemente positiva e prolongada para que o segundo cérebro passe a aceitar que tudo o aprendeu até hoje está errado.

Uma pessoa que está ansiosa hoje provavelmente estava ansioso há cinco anos atrás – talvez desde a infância – e quase certamente estará ansiosa daqui a cinco anos também. Os padrões de ativação adotados por um cérebro, para se adaptar ao contexto em que se desenvolveu e suas experiências iniciais, tendem a permanecer estável. Os hábitos físicos, mentais e emocionais que experimentamos se desenvolvem a partir desses padrões. Eles controlam nossa percepção, nossas ações e nossa vida.

A ironia é que tal padrão – desconectado da sua origem – frequentemente acaba mantendo a pessoa exatamente no estado para o qual ele foi projetado para evitar. Se o meu cérebro não experimentou o cuidado e aprendeu a manter a distância para evitar decepções, ele se bloqueia de experimentar isso hoje – mesmo que a pessoa agora esteja querendo e possa experimentar este contato.

Mudança de hábitos

Nós temos muito mais experiência com outro complexo sistema caótico em nossos corpos. Seu sistema metabólico, que digere o alimento, transforma a glicose em gordura e deste modo produz energia; é incrivelmente complexo. Ele também mantém hábitos estáveis de energia. Eu posso comer uma pizza inteira e beber 6 latas de refrigerantes enquanto fico deitado no sofá o dia todo, e nem por isso estarei 2 quilos mais gordo amanhã. Eu posso comer apenas um pedaço da pizza e beber um galão de água durante um exercício intenso, e também não perderei 2 quilos.

Embora a maioria de nós não tenha nenhuma esperança de compreender o metabolismo, sabemos que nós podemos alterá-lo se estivermos constantemente mudando o que entra ao longo do tempo; ou consistentemente mudando o que sai. Através do treinamento, podemos modificar os hábitos energéticos de uma forma muito estável.

O mesmo vale para o cérebro.