Tao na Floresta

Quando eu morei em Atlanta, o fundo do nosso terreno dava para uma maravilhosa reserva florestal. Atravessando a cerca, poderíamos caminhar por muitos e muitos quilômetros sem nunca se dar conta de que estávamos no meio de uma grande área metropolitana.

Logo após chegarmos, ganhamos um cachorrinho da raça Border Collie, que foi batizado de Tao, porque ele era muito calmo e sábio. À medida que cresceu, Tao foi gostando mais e mais de ver alguém colocar as botas ou tênis de ginástica e se dirigir para o portão dos fundos. A floresta era como uma Disneylândia de cachorros.

Mas Tao tinha uma característica interessante que eu logo descobri durante essas caminhadas na floresta: ele tinha que ir na frente. Isso era um pouco inconveniente, porque ele nunca sabia para onde estávamos indo, mesmo assim ele arrancava na frente de todos, e a cada 10 ou 20 segundos, olhava pra trás para se certificar de que estávamos seguindo-o.

Absolutamente nada era tão divertido para ele como quando recebíamos a visita de amigos e um grupo inteiro de pessoas saiam para uma caminhada na floresta. Ele se sentia no paraíso, guiando todos nós para onde quer que nós já estivéssemos indo.
Um dia me veio a ideia de fazer um experimento. Eu disse a todos, enquanto nos preparávamos para atravessar o portão: quando eu fizer este sinal, todos viram 90 graus à esquerda; e este sinal, 90 graus à direita; já este outro significa que todos devem dar uma meia-volta e caminhar na direção oposta. (Felizmente eu nunca pensei em dividir o grupo, fazendo com que cada um seguisse em 4 direções diferentes ao mesmo tempo.)

Então nós começamos, Tao na frente, sua cauda como uma bandeira, olhando para trás de tempos em tempos para se certificar que estávamos lá. Após cem metros ou algo assim, quando ele já estava bastante confiante de que as coisas estavam acontecendo como ele esperava, eu esperei ele olhar pra trás e nos enxergar, então dei o sinal e todos marcharam em uma direção diferente. Quando ele verificou novamente, ficou horrorizado ao ver que ele não estava nos conduzindo mais, e teve que sair correndo para nossa direção.

Quando eu comecei a treinar cérebros, percebi que Tao era uma grande analogia para a mente consciente. A voz do nosso ego vai fazer de tudo para nos convencer de que se ele não entender ou não concordar, então o que estamos fazendo não pode ser uma boa coisa.

Os clientes – normalmente no início do treinamento, especialmente quando eles estão treinando a si mesmos – estão constantemente dizendo, eu não “entendo” o feedback. O que que “deveria” acontecer? O que eu deveria sentir? Isto não faz qualquer sentido!

Eu pergunto para eles quem é que está fazendo esses comentários ou levantando essas questões. Eventualmente, eles descobrem que é a sua mente consciente. Então eu conto-lhes a história de Tao na floresta.

A moral da história é:

Quando você sai para uma caminhada pelas florestas do treinamento cerebral, você precisa deixar o cachorro para trás. Ele vai choramingar e ficar latindo no portão, alertando que se você sair sem ele, vai se perder ou ser comido por um urso ou qualquer outra coisa do gênero; mas mesmo assim você tem que deixá-lo para trás.